Os títulos amadores do Vasco: 1955 e 1965
Os 11 meninos, da Vila Rasmussen e do bairro da Conserva, que fundaram o Vasco da Gama em 1950, cresceram e assim puderam vislumbrar novos desafios, enfrentando equipes de fora de Americana e buscando, aos poucos, adentrar no amadorismo.
É importante, sobretudo, explicar as fases históricas do Vasquinho de Americana: de 1950 a 1955, a agremiação era considerada varzeana, já que até 1953 não tinha uma equipe principal e, em 1954, apesar de formar o seu primeiro onze “adulto”, o Vasco ainda se limitava a competições e amistosos varzeanos. A partir do Campeonato Amador de Americana de 1955 (disputado em 1956) e, posteriormente, com a criação da Liga Americanense de Futebol em 1956, que se uniu à Federação Paulista de Futebol para a criação de uma região no Campeonato Amador do Estado, o Vasco passou a ser considerado um time amador. Por fim, em 1966, o cruzmaltino se profissionalizou e disputou o Campeonato Paulista da Terceira Divisão (a 4ª estadual). Estes são os três períodos históricos do alvinegro da Vila Rasmussen.
O Campeonato Amador de Americana de 1955 pode ser considerado a transição do Vasco da Gama para o amadorismo. Há um ano o cruzmaltino tinha formado o seu primeiro time “adulto” – com algumas poucas mudanças em relação aos meninos fundadores – e assim reunia possibilidades de enfrentar equipes relevantes da região de Campinas. As principais forças amadoras de Americana na época eram o Bangu, o Santa Mônica e o Flamengo, porém, naquele ano, decidiram nem organizarem e nem disputarem algum campeonato da cidade. Foi pensando nisso que algumas equipes do futebol do município se reuniram para montar o Torneio da Cidade e pode-se dizer que o certame teve relativo sucesso, já que os jogos foram noticiados até mesmo pelo semanário da Gazeta Esportiva.
1955-1956: VASCO QUEBRA SÉRIE HISTÓRICA
E É CAMPEÃO AMADOR
O Campeonato Amador de Americana (ou “Torneio Interclubes da Cidade de Americana”) de 1955 foi o “primeiro ato” do time adulto do Vasco da Gama. A competição foi organizada pelo próprio cruzmaltino junto ao Americanense Futebol Clube + e que contou com outras duas agremiações convidadas: o Paulista Futebol Clube de Americana + e a Associação Desportiva e Musical Usina Ester de Cosmópolis – este último clube participava da mesma região esportiva de Americana nos campeonatos da Federação Paulista de Futebol.
Algumas equipes recusaram o convite de Vasco e Americanense, são elas: Flamengo Futebol Clube, Esporte Clube Bangu, Esporte Clube Santa Mônica, Rio Branco Football Club (porém, este cedeu o seu campo para a realização do torneio) e o Clube Recreativo e Sportivo Carioba. O motivo é que várias dessas equipes estavam paradas. Já o Canto do Rio Futebol Clube, famosa esquadra amadora dos anos 50 de Americana, não chegou a ser chamada.
Mesmo o campeonato tendo sido disputado em fevereiro de 1956, ele era válido para o ano de 1955, uma vez que a organização se deu em novembro – mas com as festividades de dezembro resolveram adiar o início. Portanto, o vencedor seria declarado campeão da cidade de 55.
A CAMPANHA DO VASCO



A classificação final:
A GRANDE FINAL
O Vasco da Gama e o Paulista Futebol Clube empataram na liderança do Torneio e com isso foi preciso de um jogo decisivo, realizado no dia 26 de fevereiro de 1956, no estádio da Rua Fernando de Camargo, em Americana. Em disputa estavam 11 medalhas de ouro e, claro, o título de campeão da cidade.
Segundo os relatos da época, o Vasco da Gama fez uma exibição praticamente perfeita, superando o excelente e favorito time do Paulistinha por 3 a 1. O semanário da Gazeta Esportiva, de 4 de março de 1956, registrou o seguinte relato:
“(…) destacaram-se neste jogo na equipe do Vasco, Vaca muito seguro, operando boas defesas na meta, da linha media sobressaiu bem Nivaldo e Canhão, da linha de ataque, Adhemar (sic) grande chutador com boas escapadas, Orlando este foi o maior homem em campo dos 22 jogadores; Robertinho muito marcado, mesmo assim deu muito trabalho para a defesa do Paulistinha.”
Com a conquista, o Vasco da Gama quebrou uma série histórica de títulos do futebol americanense, já que até 1954 apenas Rio Branco e Carioba – historicamente, as duas principais agremiações da Princesa Tecelã – tinham conquistado os certames amadores do município. Entre campeonatos oficiais e não-oficiais, o Tigre possuía 13 títulos da cidade: 1921, 1922, 1923, 1925, 1930, 1931, 1932, 1943, 1945, 1946, 1949, 1952 e 1953; já a Vermelhinha era a detentora de seis comendas de melhor de Americana: 1926, 1927, 1928, 1944, 1950 e 1954. Os torneios não-oficiais de 1947, 1948 e 1951 não têm os seus campeões conhecidos, entretanto apenas Rio Branco e Carioba eram os participantes. Com isso, pode-se concluir que o Vasco da Gama iniciou um rompimento do domínio do futebol americanense.
Campeonato Amador de Americana de 1955 – Final
Placar final: Vasco da Gama 3×1 Paulista (de Americana)
Local: Estádio da Rua Fernando de Camargo, em Americana
Árbitro: Alcides Silveira
Público: aproximadamente 4 mil pessoas
Renda: Cr$15.400,00
Vasco da Gama: Vaca; Chimbo e Necão; Massimo, Nivaldo e Canhão; Naino (Sidinei, depois Neguinho), Orlando, Robertinho, Horácio e Ademar. Técnico: Tonão do Valle.
Paulista: Caró; Alcides e Braz; Nerso, Milton e Marcílio; Armindo Borelli, Corrêa, Hernandez, Agostinho e Darci. Técnico: Nini.
Gols: Vasco – Ademar, Orlando e Sidinei.
1965: VASCO É BI-CAMPEÃO DE AMERICANA
O futebol amador de Americana vivia a sua “Era de Ouro”, com equipes de várias cidades participando e com a organização da Liga Americanense de Futebol em conjunto da Federação Paulista de Futebol – naquela época, as ligas municipais, para serem consideradas regulares, precisavam estar filiadas à FPF e disputarem o Amador do Estado.
Para contar o contexto do futebol amador daquela época é preciso relatar a fundação da Liga Americanense e como funcionava o Amador do Estado:
A LIGA AMERICANENSE DE FUTEBOL
O início da década de 50 foi muito ruim para o futebol de Americana. Os dois principais times da cidade, Rio Branco e Carioba, estavam praticamente parados e disputavam, em algumas oportunidades, o Amador do Estado da FPF como times não filiados a uma liga e quase sempre em uma região com quadros de outras cidades – como Santa Bárbara d’Oeste e Limeira. O futebol varzeano não era diferente: como não havia uma liga na cidade que reunisse os times em uma competição, eles disputavam torneios “fantasmas” – que nem chegavam a ser noticiados nos jornais do município.
Diante dessa necessidade e diante da já ativa participação de algumas agremiações varzeanas na organização de torneios de Americana, em 18 de novembro de 1956 os seguintes clubes se reuniram para fundarem a Liga Americanense de Futebol: Associação Atlética Americana, Bertamar, Vasco da Gama, Flamengo, Paulista, São Domingos, Fiação de Carioba, Gimbar, Palestra, Santos, São Vito e Botafogo + . Também escolheram o primeiro presidente da entidade, Sr. Pedro Riva, e o início do 1º Campeonato Amador de Americana (da Era LAF) – que ficou marcado para o dia 16 de dezembro de 1956 com os seguintes jogos: AA Americana x São Vito; Paulista x Palestra; Vasco da Gama x Bertamar + .
Em sua primeira edição, a Liga Americanense de Futebol atuou como irregular, apenas se filiando à Federação Paulista no fim de 1957. Portanto, apenas em 1958 é que os integrantes do campeonato da cidade jogaram de fato o Amador do Estado. Com a filiação, equipes de outras cidades passaram a participar do Amador de Americana, como de Nova Odessa, Sumaré e de distritos como Nova Veneza.
A Liga Americanense de Futebol existe até hoje e continua organizando os torneios amadores do município. Entre 1974 e 1994, a entidade passou por um período de suspensão das atividades, passando para o DECET (Departamento de Cultura, Esporte e Turismo) de Americana a responsabilidade da organização do futebol local.
O AMADOR DO ESTADO
O Campeonato Amador do Estado, realizado pela primeira vez em 1942 com o nome de Campeonato do Interior, é um torneio organizado pela Federação Paulista de Futebol junto às ligas locais para decretar o campeão amador de São Paulo. O torneio era, quase sempre, divido em três fases: a municipal, a regional e a estadual. Era preciso, portanto, se sagrar campeão municipal e, posteriormente, regional, para disputar a fase final com todos os campeões regionais do estado.
A fim de explicitar a estrutura do Amador do Estado, podemos pegar o exemplo de Americana na década de 60. O primeiro passo para uma agremiação era ganhar o Campeonato Amador da cidade – neste caso, organizado pela Liga Americanense; depois, era preciso ganhar a fase regional – as regiões eram definidas pela própria Federação Paulista de Futebol e no caso dos campeões de Americana quase sempre tinham como adversários os campeões de Santa Bárbara d’Oeste, Campinas, Limeira e Araras; por fim, chegava a fase estadual que reunia todos os campeões regionais.
O Amador do Estado existe e é organizado até hoje pela Federação Paulista, mas não com a mesma força de tempos antigos, uma vez que deixou de ser obrigatória a filiação das ligas locais na entidade maior do futebol do estado. Na década de 60, por exemplo, quase 100 regiões e que englobavam aproximadamente 200 cidades participavam do certame. Em 2018, apenas 56 ligas municipais são consideradas filiadas à FPF e que podem indicar seus representantes (campeões) para o Amador do Estado.
A CAMPANHA DO VASCO NO CAMPEONATO DE AMERICANA
DE 1965


































A classificação final:
O JOGO DO TÍTULO
Flamengo 2×4 Vasco da Gama
O Vasco vinha de uma campanha perfeita no Amador de Americana: cinco vitórias em cinco jogos. Na classificação, o cruzmaltino era o líder com nenhum ponto perdido, enquanto o Flamengo era o vice-líder com seis pontos perdidos (a vitória valia dois pontos e o empate, um ponto). Com três rodadas restantes para o encerramento do campeonato, a única chance do rubro-negro tirar o título do cruzmaltino era vencendo todos os jogos, inclusive o confronto direto, e torcer para o Dragão não mais vencer e nem mesmo empatar.
Entretanto, muitos contextos estavam inseridos neste prélio e que apimentavam ainda mais o maior clássico do futebol amador de Americana. O primeiro é que no início de 1965, o Vasco da Gama ganhou do Flamengo na Taça Amadeu Elias + – competição disputada anualmente pelos dois rivais, em formato melhor de três, para decidir o campeão. Isso deixou os torcedores e o elenco do Cacique (mascote do Flamengo) “mordidos”, querendo a todo custo dar o troco no Campeonato Amador.
Por fim, o segundo contexto era o de um conflito que se alastrava desde o Campeonato Amador de 1963. Na ocasião, Flamengo e Carioba brigavam pelo título da cidade – sendo que o rubro-negro tinha uma vantagem de três pontos para a Vermelhinha -, enquanto o Vasco, com uma má campanha, não tinha mais chances de ficar com o troféu. Entretanto, as três últimas rodadas marcavam confrontos entre Vasco, Flamengo e Carioba – ou seja, o cruzmaltino teria um papel decisivo na campanha.
O primeiro jogo foi em 1 de dezembro e se o Flamengo ganhasse o clássico do Vasco, no estádio Victório Scuro, ficaria com o título da cidade. O empate por 1 a 1, em um jogo muito tumultuado, adiou o título do Cacique + . Em 8 de dezembro, aconteceu o confronto direto entre Carioba e Flamengo que terminou com a vitória do time vermelhino por 5 a 2 + . Por fim, em 15 de dezembro, a realização da última rodada, entre Carioba e Vasco – no qual o Dragão poderia dar o título ao seu maior rival. Porém, o alvinegro perdeu por 4 a 1 e muitos rubro-negros reclamaram de que o rival teria entrado em campo apenas para cumprir tabela, entregando a vitória para o Carioba a fim de prejudicar o Flamengo + .
Naquela edição foi preciso de um jogo de desempate, realizado em 12 de janeiro de 1964 e que terminou com a vitória do Carioba por 2 a 0 + . O bom Flamengo de 1963 estava praticamente desmontado e vários dos seus jogadores tinham ido justamente para o Vasco da Gama – o que causou um grande mal-estar entre os arquirrivais.
Portanto, neste jogo de 1965, era a chance do Mengo se redimir e, até mesmo, se vingar do Vasquinho. Entretanto, a vitória por 4 a 2, sendo que até os 38 minutos da etapa final o Vasco vencia por 3 a 2 e sofria uma grande pressão do rival, sepultou as chances do Flamengo e deu o título para a agremiação da Conserva.
Campeonato Amador de Americana e do Estado de 1965 – 8ª Rodada
Placar final: Flamengo 2×4 Vasco da Gama
Local: Estádio da Vila Galo, em Americana
Árbitro: Eduardo Silveira
Vasco da Gama: Sidney (Marquini); Chan-Chan e Alemão; Irineu, Nande e Paulinho Carola; Maurinho, Cezarino, Waney, Tatuzinho e Buzina. Técnico: Antônio Campana.
Flamengo: Patinha; Nilton e Rubão; Lumumba, Wanderley e Geraldão; Nene, Tuta, Gigi, Tatão e Corvinho.
Gols: Vasco – Waney (2), Marinho e Wanderley (contra); Flamengo – Corvinho (2).
Após o título de Americana, o Vasco da Gama disputou a fase regional do Amador do Estado – Zona 50 contra o Circulista, campeão de Araras, e a Internacional, campeã de Santa Bárbara d’Oeste + . Os seguintes resultados foram apontados:















O jogo entre Vasco da Gama e Internacional, marcado para a última rodada desta fase regional, foi cancelado por desistência das duas equipes, uma vez que o Circulista já estava matematicamente decretado como o campeão regional.
Dessa forma, a classificação final apontou:
fantastico o site com toda nossa gloriosa historia mostrando que o time atual é reflexo do passado lutando de mais parabens gabriel e todos os que ajudaram neste site ficou lindo abraço do presidente ec vasco da gama americana gestão 2016/2019 forte abraço cada dia mais orgulhoso de nossa rais e historia
Massimo Speciari
Ciao Gabriel, muito obrigado pela exelente materia sobre o nosso querido Vasquinho.